Como prevenir as lesões no esporte
Atletas de elite, que competem em alto nível, vivem sob a sombra das lesões, que podem ser evitadas
Para os atletas profissionais, a atividade física é encarada como um trabalho a ser desempenhado diariamente, com metas a serem batidas constantemente em busca dos melhores resultados e desempenhos. No entanto, a vida profissional de um atleta tende a ser breve, atingindo o seu auge entre os 18 e 25 anos de idade e declinando a partir dos 30 anos. Essa brevidade se deve, principalmente, as lesões típicas do esporte.
Com a proximidade dos Jogos Olímpicos Rio 2016, fica mais evidente a preocupação dos atletas de elite que precisam se preparar para a competição de “suas vidas” sem comprometer o corpo com as lesões, correndo o risco de ficar de fora dos jogos.
O médico ortopedista e traumatologista Anderson Monteiro, que atua na medicina do esporte, comenta que as lesões mais comuns do esporte estão relacionadas às torções. “Quem pratica esporte está sujeito a lesões. A atividade física previne uma série de doenças, mas sua prática incorreta pode levar a dores e distensões musculares se não houver o cuidado com o aquecimento e o alongamento adequados. As lesões decorrentes de esportes de contato, onde as disputas envolvem contato físico entre os jogadores como, futebol, basquete e handebol, são diferentes das ocasionadas por outras modalidades praticadas individualmente, já que o contato físico aumenta o risco de contusão. As mais comuns são as entorses, também chamadas de torções, ruptura de ligamentos, contusões, distensões, estiramentos e contraturas musculares”.
O ortopedista reforça a importância de um bom condicionamento físico dos atletas para evitar as lesões por meio da fisioterapia desportiva. “Através do trabalho preventivo, realizado juntamente com o condicionamento físico e acompanhamento nutricional, busca-se a melhora no desempenho físico e o bem-estar geral dos atletas. É extremamente importante que as equipes esportivas quebrem o paradigma da vertente curativa da saúde, para promover a prevenção das lesões e possíveis doenças”, alerta Monteiro.
Esta afirmação é corroborada pelo educador físico Fabrício Paini, que também vê como extremamente importante a preparação física e muscular na prevenção de lesões no esporte. “Atualmente, os atletas profissionais são submetidos regularmente à avaliação física, que concede dados que irão subsidiar a periodização dos treinos com as capacidades físicas (resistência, força, potência). Os treinos variam de acordo com o calendário de disputa dos torneios e o real nível de condicionamento físico encontrado. Por isso, o treino de fortalecimento muscular tem que ser alinhado aos treinos específicos de cada modalidade, com um trabalho interdisciplinar entre técnico e preparador físico”, explica o educador físico.
A fisioterapia no esporte
Para o fisioterapeuta e osteopata Felipe Alavarce, a fisioterapia consegue traçar uma metodologia de trabalhos corretivos para diminuição do risco de lesão durante as competições. “Hoje a fisioterapia vem sendo procurada não somente por pacientes com patologias presentes, mas também, por atletas amadores e profissionais para um trabalho preventivo”, comenta.
A fisioterapia no esporte possui protocolos específicos para a recuperação pré, durante e após as competições. “Os atletas perceberam que o trabalho do fisioterapeuta é fundamental no dia a dia de seu trabalho, tendo em vista uma maior eficiência nos treinamentos e um maior suporte para o que chamamos de recovery, que é o processo de recuperação pós treino. Com protocolos específicos de recovery, conseguimos atualmente diminuir consideravelmente a incidência de lesões durante as competições”, explica Alavarce.
No entanto, o fisioterapeuta e osteopata é contundente em afirmar que a coluna é a região que mais sofre em qualquer modalidade esportiva. “Grande parte dos atletas sofrem lesões na coluna por uma deficiência no preparo preventivo dentro de seu centro de treinamento, acarretando diversas complicações na região da coluna durante seu período de atividade como atleta profissional”, adverte Alavarce.
O condicionamento como fator de prevenção
O trabalho de condicionamento físico, junto com descanso e alimentação regrados, são os principais fatores de prevenção contra lesões. “Um atleta com um bom alongamento e fortalecimento previne lesões musculares, exceto os machucados por choque ou outro fator externo”, cita Fabrício Paini.
O educador físico argumenta que para cada modalidade, há um o treino específico muscular que visa trabalhar o fortalecimento de forma mais parecida com os movimentos usados em cada modalidade esportiva, fortalecendo músculos que são mais exigidos. “Por exemplo, no futebol tem o treino técnico de condução de bola e fundamento de chute, o treinamento tático de posicionamento e transição defesa para o ataque e o treinamento muscular para mobilidade, estabilidade e exercício de resistência”, explica.
Praticar atividade física até quando?
Não há uma idade limite para a atividade física, seja de forma profissional ou amadora. Para o médico Anderson Monteiro, cada corpo é único em seus limites. “Para alguns, dedicar uma hora, três vezes por semana, a uma atividade física é o máximo. Outros não veem problema em treinar todos os dias. Há quem corra cinco quilômetros e esgote as energias, enquanto os maratonistas ainda têm fôlego de sobra”, enfatiza.
A grande diferença entre esses perfis não está apenas no condicionamento físico, mas também na forma como encaram o limite apresentado pelo corpo e na própria predisposição para atividades extremas. “Enquanto para muitos esse é o ponto de chegada e marca o fim do treinamento, para um grupo de aficionados por adrenalina, é apenas o início de uma batalha travada com a mente para ir além e fixar novos desafios a serem superados” argumenta o ortopedista.
Monteiro ainda alerta que as pessoas devem ficar atentas aos sinais do corpo para não extrapolar os próprios limites. “Nosso corpo é dotado de mecanismos de defesa que garantem que possamos passar por momentos dos mais adversos. Mas para tudo há um limite. E como ninguém é super-homem, muito menos para aqueles que não tem treinamento nem acompanhamento especial como alguns profissionais, o velho conselho vale: ‘É importante a prática de atividade física orientada e acompanhada por um profissional’”, adverte.
BOX – Quais as lesões mais comuns de algumas modalidades:
Futebol — Modalidade de exigência física extremamente complexa, que apresenta várias ameaças ao corpo. Os jogadores sofrem com mais regularidade de ligamento e torções, distensões e contusões, principalmente nos tornozelos e joelhos. A torção da maior parte deles aparece quando ocorre um movimento forçado. Outra lesão que pode ocorrer no futebol é na cabeça, devido ao constante choque com a bola e/ou com os outros jogadores.
MMA — Proporciona praticamente contato total com o adversário, aumentando riscos de lesões em diversas partes do corpo. Um treinamento com instrutores adequado é essencial para não forçar articulações, músculos e tendões desnecessariamente ou de maneira errada. Por ser um esporte violento, os riscos de lesões simples são os hematomas e contusões. Já as mais complexas são quando um chute acerta, por exemplo, uma articulação, podendo provocar luxações, rompimento de ligamentos ou até mesmo fraturas como, de costelas.
Natação — Quase sem impacto, onde a principal resistência a ser vencida é a água, as lesões causadas por quem é nadador podem acontecer caso o atleta mantenha alta intensidade de treinos, de forma inadequada. As regiões mais afetadas são os ombros e a coluna lombar. Apesar de benéficas para o condicionamento aeróbico, modalidades como nado borboleta e nado peito requerem cuidado, pois são estilos que exigem muito da coluna lombar.
Tênis — Exige do atleta uma preparação física e técnica muito grande. As lesões mais comuns são entorse de joelho e tornozelo, musculares da panturrilha, luxação nos ombros, de mão e punho, além de lombar. O golpe que mais causa lesões associadas à prática do tênis é o saque, pois requer um conjunto de movimentos integrados das pernas, do tronco e dos braços. Outra lesão muito comum é chamada de “cotovelo de tenista”, que é uma inflamação que pode prosseguir para uma progressiva degeneração dos músculos extensores do antebraço.
Voleibol — Entorse de tornozelo é a lesão traumática aguda mais comum na modalidade, porque o jogador pode tocar o pé na linha central da quadra, aumentando o risco de choques com o adversário. Muitas ocorrem na aterrissagem de um salto sobre o pé do jogador oponente ou quando o atleta, ao saltar na execução de um bloqueio duplo, por exemplo, aterrissa no pé de seu parceiro. Muitas dessas lesões ocorrem na ação de bloqueio ou ataque, porque existe uma diferença de tempo de execução entre o salto do atacante e do bloqueador, assim como, a carga excessiva que aplicada nos ombros, considerando o uso repetitivo dessa articulação nos movimentos dos braços.